sexta-feira, 23 de maio de 2008

Guernica - Pablo Picasso

Guernica -Pablo Picasso- 1937
Óleo sobre tela
351 x 782,5 cm
Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri(Espanha)



Toda a lateral inferior esquerda do quadro é ocupada por uma figura totalmente mutilada, que pode ser assemelhada uma espécie de guerreiro. Repare que, apesar de ter a cabeça e os braços cortados, o guerreiro está agarrado a uma espada quebrada, simbolizando assim a resistência do povo espanhol. Próxima a sua mão, ainda contraída em torno da espada quebrada, encontra-se uma flor, símbolo da esperança de uma nova era. A flor, símbolo da esperança, quase que unida à espada, símbolo da resistência, juntas, podem transmitir uma mensagem do tipo: "enquanto houver resistência haverá esperança".




No lado esquerdo da tela encontra-se o touro. Essa é também é uma figura ambígua, pois nele pode estar representada a resistência do povo espanhol. No entanto, o touro, que representa brutalidade, pode simbolizar o general Franco. Repare que o touro está parado, abanando a cauda, como se, "após um ataque bem-sucedido", recuasse para ver os "estragos feitos no adversário" e se preparasse para o próximo ataque.

Na parte central do quadro, vemos um cavalo em agonia.

Repare que ele está caído de joelhos, como se estivesse sentindo as terríveis dores causadas pela lança fincada em seu corpo e por uma enorme ferida ainda aberta.
A cabeça do cavalo está voltada para o touro. Da boca do cavalo parece sair um rugido feroz, um misto de ira e dor. Repare que esse "urro" parece estar direcionado para a figura do touro, ao lado.



Uma vez questionado sobre a ambigüidade existente entre as figuras do touro e do cavalo Picasso disse: "Este touro é um touro, este cavalo um cavalo (...). É preciso que o público, os espectadores, vejam no cavalo, no touro, símbolos que eles devem interpretar como os compreendem".

(extraído da obra Mundo; Homem; Arte em Crise de Mário Pedrosa)


Ao lado da lamparina, sobre a cabeça do cavalo, está uma espécie de lâmpada elétrica. Devido ao seu formato de sol, essa figura pode sugerir o "olho de Deus", que vê tudo vê.

Repare ainda que até mesmo essa luz parece "gritar de horror".



No centro superior da tela, próximo à cabeça do cavalo, existe um braço, que se parece como uma nuvem. A sua mão disforme segura uma lamparina a óleo, muito comum nas casas de camponeses.

Essa lamparina emana uma luz suave, que talvez represente a luz da consciência.


A guerra civil espanhola despertou em Picasso uma viva solidariedade com os Republicanos. O painel, executado para o pavilhão da República Espanhola na Exposição Internacional de Paris, foi inspirado no terrível bombardeio de Guernica, a antiga capital dos bascos. Não representa o próprio acontecimento, mas evoca, por uma série de poderosas imagens, a agonia da guerra total.


A destruição de Guernica foi a primeira demonstração técnica de bombardeios de saturação, mais tarde empregada, em grande escala, na Segunda Guerra Mundial. O mural constitui assim uma visão profética de desgraça - a desgraça que nos ameaça ainda mais hoje, nesta era de guerra nuclear. O simbolismo da cena resiste a uma interpretação precisa, apesar de vários elementos tradicionais: a mãe e o filho morto são os descendentes de Pietá, a mulher com a lâmpada lembra a Estátua da Liberdade, e a mão do cadáver empunhando ainda uma espada partida é um emblema bem conhecido da resistência heróica. Também sentimos o contraste entre o ameaçador touro de cabeça humana,que certamente representa as forças do mal, e o cavalo agonizante.


Estas figuras devem a sua terrível eloquência àquilo que são, e não àquilo que representam. As distorções, fragmentações e metamoforses anatômicas, que nas Três Dançarinas parecem arbitrárias e fantásticas, exprimem agora uma crua realidade - a realidade da dor insuportável. A prova final da validade da colagem(aqui em "recortes" planos e justapostos, em preto, branco e cinza) é a sua capacidade de transmitir emoções tão avassaladoras.

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