segunda-feira, 26 de maio de 2008

Franklin Ramirez: 01

M: Queria começar com uma definição mais clara sobre os conceitos de direita e esquerda no mundo globalizado de hoje onde os terrenos não são tão definidos quanto no século passado e onde as políticas se misturam.
Como definir esses campos de direita e de esquerda?
R: Acho que, embora os campos políticos e ideológicos não sejam tão delimitados como antigamente, há valores e princípios políticos que ainda diferenciam uns campos de outros. Mas não há uma unidade forte de direita e de esquerda, há valores e princípios que são reivindicados por políticos, por movimentos de direita e esquerda e que guiam seus eleitores, os cidadãos, a sociedade... Nesse sentido há dois valores fortes que a esquerda voltou a reivindicar com a mudança de século e a sociedade globalizada. O primeiro, eu diria, é a igualdade, o valor que deu origem à esquerda, que originou o progressismo, a Revolução Francesa, a idéia de abolição, dos privilégios, a idéia de que todos devem ter a mesma chance de exercer suas liberdades e faculdades. Esta idéia de igualdade está mais articulada com o princípio da auto-realização, com a liberdade de se auto-realizar e não só com a idéia de não sofrer a interferência do Estado. Este princípio de redistribuição igualitária voltou à cena política, principalmente na América Latina. Outro princípio forte no âmbito da globalização tem a ver, com a recuperação de noção da soberania nacional, da soberania popular. É um princípio situado historicamente no contexto da abertura de mercados, de enfraquecimento de alguns estados nacionais, de várias instituições internacionais influentes na política econômica e estrutural dos Estados, principalmente no hemisfério sul. Este princípio de soberania no séc.XXI não se limita a afirmar a soberania dos estados sobre a sociedade. É um princípio de autodeterminação dos povos, da sociedade, que não se apresenta como no século passado, como uma sociedade fechada em si mesma. As esquerdas latinas, no governo ou não, vem implementando há mais de uma década o princípio da integração regional como um processo estruturante de um novo cenário político e econômico. Não é apenas o efeito de alianças nacionais entre estados. É uma pré-condição para que os estados possam avançar em suas agendas políticas e econômicas. É uma mistura de soberania popular, nacional, sem se fechar em si mesma, mas buscando uma projeção regional, como plataforma política, como condição política para abrir a negociação de reformas progressistas no mercado internacional, com instituições internacionais, como os Estados Unidos e entre os estados.

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