segunda-feira, 26 de maio de 2008

Franklin Ramirez: 07


M: Mas com exceção de Cuba, nenhum desses países, deu sinais de que romperiam com as instituições ou com a estrutura de acúmulo capitalista...


F: O problema da tese das duas esquerdas é que não há uma análise histórica concreta do que ocorre em cada país. Há muito mais do que duas esquerdas.


M: Há pontos de contatos...


F: Sim, há pontos semelhantes. Mas cada governo, cada coalizão política, que ocupa o governo, responde a uma conjuntura nacional particular, responde às heranças institucionais políticas, do neoliberalismo, e também responde à capacidade de mobilização que os governos têm na sociedade de acordo com a força dos movimentos sociais e da participação social no conjunto. Estas variáveis são diferentes em cada país, e muito. Não se pode esperar que o governo de Michele Bachelet se apóie nas mobilizações sociais, nas organizações populares, em se tratando de um sistema político forte, com ação coletiva de movimentos sociais que não têm a contundência do caso boliviano, que desempenha um papel dinamizador da agenda política, que até arrisca a estabilidade do sistema político, mas que também soube ativar a conexão entre sistema político e cidadania. Não são os mesmos perfis. Quando Castaneda e companhia dizem que Chavéz quer ir além do capitalismo...Chavéz tem uma boa relação com os bancos privados. Os bancos cresceram muito em seu país. Teve lucros incríveis nos últimos anos. A relação com as petroleiras, inclusive com os EUA, é igual: o comércio está aberto. Chavéz sempre fala disso, não mudou. O padrão de acúmulo da economia venezuelana, que não nasceu com Chávez, e sim, com Carlos Andréz Perez, nos anos 70, sem manteve. É uma política baseada no capitalismo de estado com grande capacidade de retribuição à sociedade, com baixa diversificação produtiva, em setores como agricultura e alimentos. A Venezuela importa quase tudo. O padrão da política econômica que privilegia as finanças em detrimento da produção não foi modificado. O que mudou muito na Venezuela foi o padrão de redistribuição social. O governo da revolução bolivariana, como Chávez gosta de se autodenominar, teve uma política de distribuição voltada ao povo. Nem sempre foi muito eficaz, o que é um problema grave do Estado Venezuelano. É um problema da eficácia do aparato estatal, que não se compara, por exemplo, ao nível de expertise e institucionalização do estado social brasileiro.

Nenhum comentário: