segunda-feira, 26 de maio de 2008

Franklin Ramirez: 03

Manifestantes frente ao Palácio de Carondelet, no Equador, após o
Congresso destituir o presidente Lucio Gutiérrez,
20 de abril de 2005. (Foto: Guillermo Granja/Reuters)
M: O quadro político na América Latina mudou muito. Você diz que: “Nunca antes, partidos, coalizões ou movimentos políticos tidos como de esquerda conseguiram se eleger democraticamente quase ao mesmo tempo para ocupar o governo de tantos países.” Como explicar essa simultaneidade?


R: Há um fator estrutural e histórico relacionado ao fim do ciclo de reformas neoliberais, das políticas de consenso de Washington para gerar maiores níveis de bem-estar social ao povo. Os efeitos foram medíocres em quase todos os países. Progressivamente as sociedades latinas se desencantaram com políticas que já haviam apoiado. O desencanto estava ligado aos baixos rendimentos econômicos. E há um terceiro fator: há uma distância estrutural da agenda econômica, o que gera um desgaste cada vez maior na classe e nos partidos políticos. Na queda De La Rua em 2001, ouvimos nas ruas estas frases: “Fora todos”, “Nenhum deve ficar”. Em 2005 na queda de Lúcio Gutierrez, no Equador, escutou-se a mesma frase: “ Fora todos”. A sociologia fala de contágio de discursos, contágio de repertório de ação, mas o contágio não se dá no vazio, e sim no âmbito de processos estruturais, mais ou menos homogêneos e comparáveis. Isso se articulou no fim dos anos 90 com a chegada de partidos progressistas tradicionais, como o PT no Brasil; Frente Amplia, no Uruguai; até o Partido Socialista Chileno...

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