segunda-feira, 26 de maio de 2008

Franklin Ramirez: 08

M: Esses são justamente os países mais polarizados, que enfrentam grande polarização da sociedade e uma instabilidade política. Os governantes tendem a culpar a instabilidade política como sendo obra dos EUA e do conservadorismo de suas elites. Mas os críticos falam também de uma ausência de visão estratégica, de incompetência desses governos. Quem tem razão?

F: Os dois argumentos têm razão. Efetivamente os setores políticos tradicionais, as elites conservadoras, os partidos que dominaram a vida política desses países nos últimos anos não entraram em uma lógica de negociação, não se adaptaram ao processo de mudança. Eles mantêm um discurso, uma histeria política muito exacerbada, em relação às ações tomadas por esses governos progressistas. Por outro lado os novos líderes desses países levaram seus discursos ao extremo sem favorecer um ambiente de negociação política. Venezuela, Bolívia e Equador são regidos por governos de esquerda após o colapso do sistema de partidos. No caso do Brasil, Uruguai e Chile os governos de esquerda chegam através do sistema partidário. Não há mediação institucional. No Equador os partidos que ficaram 30 anos no poder já saíram de cena nas últimas eleições da Assembléia Constituinte, dos 130 votos eles conquistaram 30. Na Venezuela o bipartidarismo que surgiu com o Pacto do Ponto Fixo não existe mais. Na Bolívia os partidos que governaram nos anos 90 estão enfraquecidos nacionalmente embora tenham certa força regional. A perda da capacidade de mediação das instituições antecedeu a chegada desses governos. Mas os conflitos na Bolívia, na Venezuela e no Equador são diferentes. A polarização não é tão grande no caso equatoriano. No caso equatoriano não há uma mobilização social da oposição como se viu nos últimos meses em Santa Cruz, Bolívia, como se viu com o referendo na Venezuela, para a reforma constitucional. Há conflitos e tensão política, sem haver uma polarização da ordem social.

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