domingo, 25 de maio de 2008

Cannes dá prêmio de melhor atriz a brasileira

A revelação brasileira Sandra Corveloni consagrada em Cannes
Há 4 horas


CANNES, França (AFP) — A brasileira Sandra Corveloni teve a carreira voltada para o teatro antes de encarnar uma comovente mãe de família em "Linha de Passe" de Walter Salles e Daniela Thomas, seu primeiro papel no cinema, pelo qual obteve neste domingo o prêmio de melhor interpretação feminina no 61º Festival de Cannes.
O prêmio é "totalmente inesperado porque o nosso é um filme coletivo, feito a quatro mãos, e um pouco como 'Rocco e seus irmãos' fala de cinco personagens; o sexto é a cidade de São Paulo", declarou Salles à AFP após a entrega de prêmios.
"Ver que grandes atores como Sean Penn, ou mesmo Jeanne Balibar ou Natalie Portman destacaram a atuação da atriz brasileira é emocionante porque sabemos quem é Sandra, uma atriz que nos pareceu extraordinária desde o primeiro teste", acrescentou.
"Isso aconteceu, principalmente, dez anos depois do prêmio de interpretação dado a Fernanda Montenegro em 'Central do Brasil' (no Festival de Berlim) e é incrível que este milagre pudesse se repetir", lembrou emocionado.
Walter Salles e Daniela receberam o prêmio em nome da atriz que não foi a Cannes, por ter perdido um bebê recentemente.
Daniela Thomas fez um pronunciamento em português, enviando uma mensagem de solidariedade à atriz.
Nascida em 1965 em São Paulo, Sandra Corveloni, uma morena de olhar voluntarioso, trabalhava no teatro até se juntar ao grupo de Eduardo Tolentino, atuando ao mesmo tempo como atriz e assistente.
Debutou no cinema em curtas-metragens "Flores Ímpares" de Sung Sfai e "Amor" de José Roberto Torero.
Em "Linha de Passe", ela faz o papel de Cleuza, mãe de família de um bairro popular de São Paulo, que vive às voltas com problemas financeiros, mas estando sempre disponível para seus filhos. Sua atuação sóbria e tocante emocionou o júri.
Rodado com um pequeno orçamento, o filme acompanha também as expectativas e os sonhos abortados dos quatro filhos de Cleuza.
Dario, por exemplo, queria ser jogador mas vê com angústia chegarem os 18 anos, que cortarão suas esperanças de tornar-se profissional; Dinho trabalha num posto de gasolina e freqüenta com assiduidade a igreja do bairro; Denis vai de uma namorada a outra e sobrevive.
O mais jovem, Reginaldo, sai à procura de um pai desconhecido que sabe ser motorista de ônibus.
Grávida de um quinto filho, Cleuza perde seu emprego de diarista, mas se dedica, com todas as forças, a embelezar o cotidiano de seus filhos.
Com este filme de ficção realista, comovente e sóbrio, o cineasta Walter Salles disse querer fugir da grande dramatização, evitando fechar seus personagens num determinismo social, mas com um olhar direcionado à juventude brasileira. Evita todos os tópicos sobre a juventude condenada à violencia.
A própria existência do filme é considerado um milagre porque não tem atores conhecidos mostrando, por trás das câmaras, uma equipe muito jovem, segundo os dois diretores.

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