terça-feira, 30 de setembro de 2008

Pacote rejeitado


O que está em jogo é importante demais para que fracassemos, adverte Paulson
Congresso precisa agir com urgência para evitar agravamento da crise, diz Bush
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da Folha Online
Atualizado às 10h
O presidente dos EUA, George W. Bush, voltou à TV nesta terça-feira para dizer que a demora na aprovação do pacote de ajuda ao setor financeiro, de US$ 700 bilhões, poderá piorar a cada dia a situação de crise no país.
"A realidade é que estamos em uma situação de urgência e as conseqüências serão piores a cada dia se não agirmos", afirmou Bush, no quarto pronunciamento na TV em menos de uma semana, sobre a crise financeira no país. "Estamos em um momento crítico de nossa economia (...) Reconheço que essa é uma votação difícil para o Congresso. Ninguém gosta de ver a economia chegar a esse ponto", disse o presidente, que destacou ser preciso urgência para atacar a crise.
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Bush lembrou que o projeto do pacote --que, de um documento de três páginas na forma como foi apresentado pelo Departamento do Tesouro, passou a mais de 100 páginas após dias de negociação com o Congresso-- foi rejeitado por uma pequena margem (foram 228 contra e 205 a favor da medida), mas que esse "não foi o fim do processo legislativo". "Pode haver muita disputa nesse tipo de votação, mas o que importa é que avancemos", disse.
Charles Dharapak/AP

Presidente Bush faz quarto pronunciamento na TV em apelo para aprovação do pacote
"Precisamos de um projeto que realmente enfrente os problemas que estão prejudicando o sistema financeiro, que ajude a retomar o fluxo de crédito no país, para quem empresta, para quem toma o empréstimo, a fim de fazer a economia andar de novo", afirmou o presidente.
Ontem (29), os deputados norte-americanos rejeitaram o pacote de resgate dos bancos por 228 votos contra; a favor foram 205 votos. As negociações em torno do projeto devem permanecer paradas, especialmente nesta terça-feira, por conta do feriado do Ano Novo judaico.
O líder da maioria na Câmara de Representantes, o democrata Steny H. Hoyer, informou ontem que, apesar de a Casa Branca querer que um novo pacote de medidas seja discutido com urgência, os deputados só vão se reunir na quinta-feira, ao meio-dia (13h de Brasília).
Ainda segundo Hoyer, embora uma sessão tenha sido convocada para quinta-feira, "ainda não foi decidido" se a Câmara de Representantes vai estudar "a legislação relacionada à crise econômica".
No entanto, o democrata esclareceu: "Continuaremos trabalhando contra o tempo na busca por uma solução bipartidária para as sérias ameaças à segurança econômica (...)".
Shawn Thew/Efe

O que está em jogo é importante demais para que fracassemos, adverte Paulson
Bolsas
O presidente disse que a queda "dramática" vista nas Bolsas ontem terá um impacto direto em todos os setores da economia americana. "Se continuarmos nesse rumo, o estrago econômico será muito grande", disse. Ontem, o índice Dow Jones, da Nyse (Bolsa de Valores de Nova York, na sigla em inglês), teve queda de 777,68 pontos durante o dia. Foi a maior queda em pontos já registrado pelo indicador. No fim do dia o índice caiu 6,98%, fechando com 10.365,45 pontos.
As perdas de ontem nas Bolsas representaram uma perda de mais de US$ 1 trilhão, destacou Bush.
O presidente lembrou que o valor do pacote, US$ 700 bilhões, assusta os americanos. "Claro que essa é uma grande quantidade de dinheiro, mas é necessário para lidar com um problema do mesmo tamanho", disse o presidente. O custo final ao contribuinte seria muito menor, disse o presidente, porque muito do dinheiro empregado no pacote seria recuperado.
"O Congresso precisa agir. O governo vai continuar a atuar com os líderes dos dois partidos. Vamos conversar com eles para tentar fazer avançar a legislação", afirmou.
O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse ontem que os Estados Unidos precisam "o mais rápido possível" de um plano de resgate do sistema financeiro. Segundo ele, o que está em jogo é importante demais para que o projeto fracasse.
"Temos que trabalhar o mais rápido possível. Alguma coisa deve ser feita. Vou seguir adiante com as consultas com os dirigentes do Congresso para encontrar uma forma de progredir", disse Paulson à imprensa depois de uma reunião com o presidente americano, George W. Bush, na Casa Branca.
Legisladores dos dois lados afirmaram que as negociações sobre o acordo não param. A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, disse em entrevista à imprensa que as "linhas de comunicação" continuam abertas com o governo, e que o Congresso precisa avançar para ajudar a salvar o mercado.
"É difícil imaginar que nós deixaremos o mercado com seus próprios medos e regras até sexta-feira", disse por sua vez o republicano Adam Putnam. "Nós estamos encorajando nossos membros a entender as conseqüências de não fazermos nada", afirmou.
Futuro incerto
O futuro do plano do governo de salvamento das empresas financeiras, no entanto, é incerto. A Casa Branca informou ontem estar "muito desapontada" com a rejeição.
Às vésperas da votação fracassada, líderes republicanos e democratas fecharam no fim de semana um acordo para aprovar a votação --por isso a surpresa do resultado no mercado e no governo americano.
No Congresso, líderes republicanos e democratas dizem que vão considerar uma revisão do projeto. O texto rejeitado hoje não pode ser reencaminhado à Câmara. Além da polêmica natural do assunto, as agendas de campanha dos congressistas podem dificultar a obtenção de quórum para uma nova votação.
Projeto
Em linhas gerais, o projeto apresentado pelo Congresso limita os poderes do Executivo para gerir o pacote, estreita a vigilância sobre a aplicação dos recursos, reduz os pagamentos milionários aos grandes executivos por trás das instituições financeiras que quebraram, além de ampliar benefícios para os contribuintes.
O texto foi redigido durante a noite de domingo e a manhã de segunda-feira (29), depois que os líderes do Legislativo alcançaram um acordo, sobre suas linhas gerais, pouco depois da meia-noite. Em comparação, a proposta inicial apresentada ao Congresso pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, tinha três páginas.
Em lugar de pôr à disposição do Tesouro dos EUA, de uma vez só, os US$ 700 bilhões, o montante será liberado de forma fracionada. O governo poderá usar US$ 250 bilhões imediatamente, e US$ 100 bilhões somente se o presidente Bush considerar necessário. O Congresso pode reter os outros US$ 350 bilhões se não estiver satisfeito com o desempenho do programa.
Os democratas também conseguiram introduzir cláusulas para a proteção do contribuinte. O projeto estabelece um conselho de supervisão do programa, que incluirá o presidente do Federal Reserve (banco central americano), Ben Bernanke, entre outras altas autoridades americanas.

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